Eis aqui mais um tema extremamente polêmico e controverso que vem sendo muito discutido na Internet sob diferentes óticas. Trata-se de uma revolução no mercado financeiro ou apenas mais um grande golpe? Particularmente, eu diria: “nenhuma das alternativas”. Então, vamos entender o que é o bitcoin e seu impacto real sobre a economia atual.
– Para facilitar a compreensão, confiram esta pequena introdução:
O bitcoin é uma cripto moeda que, assim como outra moeda qualquer, serve essencialmente como um meio de troca de valores (deveria). O nome cripto moeda advém do fato das transações serem efetuadas sob um sistema de criptografia baseada na troca de chaves públicas, o que também garantirá o anonimato nas transações. A grosso modo, o acesso a sua “conta bitcoin” é protegido e dependente de uma chave privada (deve ser mantida em sigilo) e os pagamentos (envio de moedas) são feitos a partir de sua chave pública (será compartilhada). Em relação a “transação em si”, é um sistema extremamente seguro.
– Para uma compreensão mais ampla da moeda, recomendo assistir o seguinte vídeo:
O objetivo neste artigo é fornecer subsídios que permitam analisar e compreender melhor o que é o bitcoin e o impacto que ele representa em nossa vida e sistema econômico, sem se deixar levar por considerações meramente conceituais ou românticas. 😉
Discutir o impacto do bitcoin sobre a sociedade ou economia global não é algo trivial. Os mais entusiastas costumam afirmar que a principal vantagem é a emissão descentralizada e independente de Governo ou empresa. Sendo assim, somos os únicos responsáveis por nossa carteira (repositório de endereços bitcoins). Portanto, costuma ser visto como uma “moeda livre”. Tudo isto é baboseira. O que interessa é saber se estamos diante de uma moeda confiável, estável e segura.
Mas, seria este o fim dos Bancos? Ou ainda o fim do “controle monetário” por parte dos Governos? Acredito que não, e acho muito improvável. A teoria é interessante. Infelizmente, entra em choque com a realidade. É uma opinião pessoal, claro!
Somos investidores. A nossa análise deve ser fria, não movida por emoção ou crença.
Ao contrário do que costuma ser dito, existem sérios problemas ou limitações por trás desta concepção. A criação dos Bancos surgiu para suprir uma demanda da própria sociedade, facilitando e oferecendo garantias em negociações financeiras ou guarda de bens de valor. Gostem ou não, os Governos tem participação fundamental para regulamentar e assegurar tais garantias. Sabemos que o sistema é falho, mas é o melhor que dispomos até então. As transações com bitcoins são realmente seguras, no entanto não oferecem as mesmas garantias, pois representam apenas uma moeda virtual.
Muitos Bancos, como o Banco do Brasil (por exemplo), entram em contato com os clientes quando percebem uma movimentação financeira fora do padrão. Também estornam, sem muita dificuldade, qualquer transação comprovadamente irregular – não é uma experiência muito rara entre usuários de cartão de crédito. Os Bancos são auditados frequentemente e são responsáveis por nossa conta (serviço pago, diga-se de passagem). No bitcoin, você será o gerente da sua conta (risos). Simples!
Diferente do que acontece com os Bancos, a descentralização do bitcoin impõe algumas fragilidades críticas. O que no início aparenta ser uma grande vantagem pode ser encarado como um retrocesso e fragilidade de segurança também. Por exemplo: “Com bitcoins, você será o único responsável por sua carteira, as transações são irrastreáveis e não há possibilidade de estorno”. Pode parecer pouco relevante, mas incorrerá em diferentes problemas.
A esta altura você já deve ter percebido porque tantos golpes cibernéticos, como sequestro de dados, solicitam o pagamento em bitcoins para a liberação do acesso. Afinal, a transação não poderá ser rastreada, estornada e ainda garantirá o anonimato. Obviamente, é uma moeda que vem sendo muito utilizada em práticas ilegais (como evasão de divisas ou lavagem de dinheiro) ou golpes. Algumas pessoas afirmam que estas características são importantes porque asseguram a “nossa privacidade” – perceberam o dilema que existe?
E a segurança de nossa carteira, como fica? A responsabilidade é de cada um (sua), claro! 😉
Caso a carteira seja comprometida, por qualquer razão, o problema será inteiramente seu. Simples assim. Mas, caso você opte por um “web wallet” (carteira remota), terá que “confiar” nos serviços prestados pela empresa, sem que haja um único órgão que regulamente ou supervisione a atividade dela. O risco é, sem sombra de dúvidas, maior. Vale lembrar que até casas de câmbio estão sujeitas a golpes também, como foi o caso da MtGox.
Apesar de controverso, o principal interesse por trás do bitcoin não tem sido como moeda de troca, e sim como forma de investimento (mineração ou operações em casas de câmbio), alternativa para transferências (incluindo evasão de divisas) ou transações anônimas. Aliás, não se engane, evasão de divisas (remessa de dinheiro, não declarado, ao exterior) também é crime.
A aceitação do bitcoin como moeda ainda é ridícula. Para comprar ou consumir um produto, é preciso pesquisar primeiro quais empresas ou estabelecimentos aceitam o pagamento em bitcoins, para somente depois identificar qual produto lhe interessa. Não há muitas opções. Piada, não?
Na prática, o preço de um produto, em bitcoins, é derivado do valor exato na moeda local de cada país. Não é independente, como gostariam. Ou seja, continua dependente e ajustado pelo valor na moeda local. Se você fosse vender o seu celular, aceitando bitcoins (por exemplo), sua primeira medida seria avaliar o valor do equipamento na moeda local (em reais), para depois converter. Caso a cotação caia, você aumentará o preço em bitcoin (para não vender com prejuízo), e caso o contrário aconteça, inverte-se a lógica (para não distorcer o valor do equipamento). E como se não bastasse, trata-se de uma moeda bastante volátil (algo que não ajuda muito).
Hoje, é apenas um meio de pagamento a mais. Neste aspecto, acho interessante e facilita bastante.
Pretendo adicionar o bitcoin como alternativa de pagamento, para doações, em alguns projetos de código aberto que mantenho (software). Assim, o risco passa a ser perfeitamente aceitável. Outros projetos, na Internet, já adotam isto, como é o caso do LibreOffice.
A tentativa de mineração individual é praticamente inviável. Mesmo que você adquira um hardware especializado (requer investimento alto) capaz de atender a demanda de processamento, estará defasado em menos de um ano e seu consumo de energia será sempre um grande obstáculo. Foi uma opção vantajosa há muitos anos atrás. Não é mais. As soluções atuais são baseadas em computação distribuída em nuvem. Pasmem, estão criando esquemas de pirâmide para justificar a expansão do poder de processamento em nuvem e muita gente está entrando. É fria!
Já a compra de bitcoins como forma de investimento é tão arriscada quanto a compra de ações. Suas características, como moeda, desqualificam a segurança como investimento. Pessoalmente, não me agrada. É verdade que muitos lucraram nos últimos anos, mas esteja ciente de que o risco é grande e você não contará com qualquer proteção caso algo inesperado aconteça. Se optar por isto, seja realista, tenha consciência dos riscos e não aplique muito dinheiro.
Finalizando…
O controle centralizado dos Bancos e dos Governos será sempre um mal necessário e obrigatório. Não se iluda. O Governo depende de arrecadação, portanto sempre exercerá algum controle sobre o sistema financeiro, independente do avanço tecnológico. Goste ou não, se você é brasileiro e possui uma carteira de bitcoins, já deve declarar os valores no programa de declaração anual da Receita.
Ninguém é dono da verdade. Mas, o mais provável é que qualquer mudança de paradigma no contexto financeiro global, se aceita, será incorporada ao sistema financeiro tradicional. É inútil encarar o bitcoin como uma filosofia de libertação. A não ser que o regime político do país mude, nenhuma tecnologia mudará o fato de que quem dita as regras é o Governo.
Em breve compartilharei alguns links uteis para os interessados nesta cripto moeda.
Pingback: Bitcoin: links úteis |
Pingback: Cuidado com pirâmides baseadas no Bitcoin! |
Pingback: Bitcoins: Por que optei ficar de fora! |
Perfeita explanação, também trabalho com tecnologia e é exatamente essa a percepção que tenho no que tange considerar a criptomoeda como investimento. Não é, por todas as características relacionadas à segurança ou insegurança como queiram. Também não vejo como não ter um marco regulatório, fiscalização e sistema flexível e rastreável para evitar fraudes em sistemas financeiros. A teoria é linda mas a prática ainda é um lixo.
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