> Dívidas

dividasPode parecer óbvio em um primeiro momento, mas vamos entender como uma dívida se desenvolve e qual a sua relação com investimentos. Em tempos de grande oferta de crédito, equilibrar as finanças tem sido uma tarefa árdua. Vamos começar abordando estes aspectos para compreender o que está envolvido e como nos blindar definitivamente.

Quem nunca participou ou presenciou discussões com o tema “viver ou poupar”? Da forma como é colocado, faz parecer que “quem poupa não vive” – é uma forma de manipular e estimular o consumismo. O que poucos percebem é o mais óbvio: “NÃO são coisas mutuamente excludentes”. Não precisamos e nem devemos optar entre um ou outro. Logo, a resposta ideal para esta questão é “ambos”. O sistema induz pensar que “poupar” seja algo ruim. Mas, na verdade, é o que confere um aumento de patrimônio gradativo, sem fugir da realidade financeira. Equilíbrio é fundamental.

Não muito diferente, também é comum encontrar distorções interessantes sobre filosofia de vida. O “amanhã” pode ser muito duro ou até cruel para adeptos da filosofia “viva intensamente o dia de hoje, porque não sabemos se o amanhã chegará”. É muito fácil pensar assim enquanto somos jovens, esbanjando energia e saúde. Infelizmente, não será assim para sempre. Não esqueça que esta condição é temporária e “o tempo voa”.

São abordagens simples, mas de grande influência sobre nossas decisões.

É complicado generalizar, mas vivemos um momento em que o “ter” é mais valorizado que o “ser”. Isto leva a um consumismo desenfreado e induz muitas pessoas a desejar um padrão de vida acima de sua realidade e com distorção de prioridades. Ironicamente, ao longo do tempo, tende a reduzir o patrimônio e diminuir a capacidade de “ter”. Há, também, uma diferença nítida em relação as novas gerações, marcada pela “falta de paciência em percorrer etapas necessárias para construção de um patrimônio sólido (foca-se mais no ‘aqui, agora’)”.

É neste ponto que os problemas começam e geram o descontrole.

“Não confunda consumo com consumismo. O consumo é importante, necessário para sobrevivência e saudável. É o que mantém a economia em movimento, com dinheiro em circulação. Já o consumismo desperta o lado irracional e quebra, com facilidade, a estabilidade econômica de qualquer indivíduo.”

Para evitar que isto lhe atinja, estabeleça um bom planejamento econômico, aceitando sua realidade financeira “atual” e respeitando seus limites. Não tente adotar um padrão de vida acima de sua capacidade.

Infelizmente, alguns imprevistos surgem em nossa vida quando não estamos preparados. Então, o planejamento precisa contemplar uma poupança, para que possamos reagir com maior tranquilidade em momentos de dificuldade.

Mas, com tantas facilidades oferecidas pelo sistema financeiro e comércio, fica difícil controlar o impulso consumista, sem perder o foco no que merece prioridade (como “saúde, alimentação e educação”), resultando em descontrole financeiro e erros de planejamento.

Normalmente, o valor de uma prestação atrai mais que o preço final do produto, levando a uma falsa sensação de caber no orçamento (esquece-se os juros pagos). Isto tende a se repetir, várias vezes, enquanto “couber no orçamento” – é o desejo de “ter” falando mais alto. O maior problema é a incapacidade de prever a condição financeira ao longo do tempo (muita coisa pode acontecer), assumindo o risco de perder o controle no primeiro imprevisto que surgir, como “um dente ou óculos que quebra, alguma manutenção doméstica, defeito no carro ou despesa médica, por exemplo”.

Para não cair nesta armadilha, mude de comportamento. Não há nada de errado em realizar gastos supérfluos, esporadicamente, quando o mês está mais tranquilo ou com grande sobra de recursos. Mas, procure fazer compras à vista e respeitando suas prioridades. Lembrando que “o ideal é poupar e investir, sempre que possível, para usufruir com mais qualidade no futuro”.

Para reforçar, faremos uma breve comparação entre um perfil “poupador” e outro “gastador”. Entenda como “poupador” aquele que separa mensalmente uma parcela de seu salário e investe (ou reinveste). O “poupador” compra à vista. Ou seja, só compra quando realmente pode ou precisa. Já o “gastador” não se preocupa tanto em poupar e faz compras parceladas (até 3 anos ou mais), desde que caiba no orçamento. O “gastador” acredita ter mais vantagens porque é capaz de adquirir mais coisas (em menos tempo) e ainda usufruir dos pontos do cartão de crédito.

Será que na prática é assim?

O “poupador” é capaz de acompanhar com grande precisão e menor esforço sua movimentação financeira e, com isto, dispõe de melhores condições para acumular patrimônio. Suas chances de enriquecimento são maiores. Isto acontece por favorecer a evolução patrimonial ao longo do tempo, visto que só consome de acordo com sua disponibilidade de recursos. Quando não pode, não assume gastos, e reinveste constantemente e de forma planejada. Esta conduta proporciona maior tranquilidade em situações emergenciais. Conforme o tempo passa, a capacidade do “poupador” aumenta, enquanto a do gastador diminui, na medida em que suas dívidas aumentam. Não faz sentido falar em “benefícios adicionais do cartão”.

O “gastador”, quase sempre, vive do momento e precisa de um esforço absurdamente maior para controlar sua movimentação financeira. Custa a aceitar, mas é um eterno devedor (com ou sem controle). No início, há uma falsa sensação de poder aquirir um número maior de bens. Mas, esta capacidade não é real e tende a reduzir-se ao longo do tempo. Não é real porque a aquisição do bem só se concretiza ao final do pagamento – pode levar anos. Dificulta o planejamento e, conforme novas parcelas surgem, limita gradativamente a capacidade de compra ou investimentos. A cada mês inicia com parte do salário comprometido. Manter o controle, nestas condições, é muito difícil. É comum que a repetição de compras parceladas incorpore ao cotidiano, dificultando cada vez mais. Com isto, aumenta a fragilidade em momentos emergenciais. Basta um pequeno deslize para desmoronar tudo e afundar-se em dívidas de grande potencial de crescimento.

Não pretendo, com isto, afirmar qual perfil é melhor. É um entendimento pessoal e cabe a cada um decidir.

O uso do cartão de crédito oferece vantagens, mas requer grande disciplina e controle. Na prática, não é o que se vê. É comum, por exemplo, a utilização do cartão de crédito como um complemento a renda principal (um grande erro). Há também quem acredite que o consumo frequente, em troca de pontos, sirva como uma forma de investimento (não é). Não se iluda, ao fazer isto, estará dando o primeiro passo para um padrão de vida acima de sua capacidade real, vivendo quase sempre no limite financeiro – não tem como terminar bem.

Se bem explorado, o ganho de pontos (pelo cartão) pode ser vantajoso. Apenas não esqueça que o objetivo principal é aumentar o consumo, fazendo com que as pessoas consumam com uma frequência maior, não só para manter o comércio aquecido como para alimentar grandes financeiras. Estas facilidades são estratégicas, não foram criadas pensando exclusivamente nos clientes. Logo, tenha consciência e sabedoria ao utilizar.

Quando o descontrole financeiro inicia, é comum ver tentativas desesperadas que acabam resultando na “bola de neve” (juros sobre juros). É, neste momento, que a maioria se afunda.

Em determinado mês, quando as contas deixam de fechar, recorrer a um empréstimo será a confirmação de um mês seguinte ainda mais “pesado” – exceto se puder contar com um benefício adicional (“confiar” em um “possível adicional” é arriscado e deve ser evitado).

É ainda pior quando se utiliza de nova dívida para cobrir uma anterior, sem considerar o custo de cada uma.

É comum encontrar pessoas que não aceitam “diminuir o padrão de vida” e nem desfazer-se de bens supérfluos para quitar uma dívida rapidamente, e acabam optando por alternativas de longo prazo (mantendo uma vida de aparências). Seja realista. Não dá para viver de aparência por muito tempo. A dificuldade aumentará, cada vez mais, na medida em que o tempo passar.

Responda a si mesmo: “As condições que levaram ao endividamento serão as mesmas nos próximos meses?”. Se a resposta for sim, não adianta se enganar, a “bola de neve” já está em andamento e sua reação precisa ser rápida e eficiente. Do contrário, correrá risco de passar parte da vida lutando para pagar dívidas.

A partir do momento que os gastos com alimentação ou pagamento de serviços essenciais, como água e luz, são comprometidos, a busca por empréstimos será inevitável. Neste momento, afaste-se do cartão de crédito e cheque especial. Do contrário, o efeito “bola de neve” será potencializado.

Faça um planejamento financeiro de forma que este processo não inicie.

Se estiver endividado, é preciso negociar com seus credores – buscando condições mais favoráveis de pagamento e considerando a substituição de dívidas de maior custo por dívidas com juros menores.

Quem poupa e sabe investir só precisa de tempo para aumentar o patrimônio.

O que pretendo aqui, é demonstrar que, muitas vezes, temos a chance de escolher onde nos posicionar. Seja um consumidor consciente e não alimente o sistema.

Assistam a este vídeo do canal BM&FBOVESPA – Planejamento financeiro